sexta-feira, junho 08, 2007

realidade*: 'mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer'

E para mais uma seção de bloqueio criativo [que me atormenta a um bom tempo, por sinal], peço licença para utilizar um texto que achei bem opurtuno para este momento de crise profunda pelo qual não só nós das Universidades Estaduais, mas o Brasil inteiro está passando diante da transformação da cultura política em mero espetáculo televisivo.


"Revolucionário de pijamas"

Minha covardia é infinita
Simplesmente aceita aflita,
Todo o caos do meu país.

Minh'alegria é indestrutível,
Sempre passa impassível
Pelas praças e nos sinais.

Lá onde vivem crianças,
E velhos sem esperança,
Até que a morte nos dê paz.

Minha fome é insaciável,
Minha ganância indomável,
Diante de tanta miséria,
Eu ainda quero mais.

E a coragem que me falta,
Para lutar de verdade,
Me sobra na vaidade
Ao escrever cada palavra.

Portanto não se aborreça,
Com aquilo que eu te digo,
Sou apenas um mendigo,
Sem vontade nem nobreza.

Sou mais um em meio a tantos,
Que brada pelos cantos,
Mas no fundo nada faz.

Sou como você leitor,
Diante do monitor,
Ou em frente à TV.

E a mentira escancarada,
Já não nos revolta em nada.

É a verdade que ninguém vê.

Ullisses Salles



Só me resta pedir aos que se entendem capazes de julgar os outros que primeiro tentem entender a si próprio. Aos que julgam seu umbigo mais importante, que ao menos respeite o do outro. E aos que só fazem dizer que as coisas poderiam ser diferentes, por favor, quando encontrarem solução melhor que as que desprezam e condenam, utilizem-se de um microfone da Globo para fazer uma boa ação à humanidade e comunicar a nós todos.









link*: Recanto das Letras

terça-feira, maio 01, 2007

comentário semanal*número 02

Eu sei que ando publicando coisas não tão boas e numa frequência nada coerente (imagine comentar a semana numa terça-feira), mas que tal um pouco de nenhuma rotina na vida? É certo que isso pode causar algum dano na memória e um certo quadro de inconstâcia crônica... hm... legal!

1) Realmente não poderia deixar passar a nova tampa para tapar 'a fenda no espaço tempo' criada pelos deslizes do PAC a respeito da educação. Pois bem, fomos apresentados ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação, o chamado 'PAC da Educação'), um plano um tanto ambicioso que pretende nos privar de notícias como a da semana passada que dizia das notas abaixo da média de quase todas as escolas públicas do país. Neste tópico insisto em duas coisas: primeiro, tomara que esta não seja mais uma sigla para os nossos filhos decorarem para a prova de história na próxima geração e que birras políticas não travem a proposta, no mínimo, bem intencionada; segundo, para os pessimistas de plantão, ontem mesmo li algo que falava da visão dos homens de espírito que não ocorre nos 'do-contra-mau-humorados.. acho que nem preciso escrever muito sobre o quanto me causa náuseas esse monte de discurso pessimista só pelo prazer das pessoas que dizer prezar tanto pela democracia justa de ser anti-governo.. é o famoso 'se não ajuda, não atrapalha, por favor'

2) Por favor, alguém aí avise os profissionais de saúde que jaleco é para ser usado dentro de hospitais laboratórios desse gênero! E antes que digam que eu não avisei, o meu mísero conhecimento da vida diz que restaurantes e metrôs não se enquadram nesse gênero [alguém me avise se eu estiver errada]. Devia haver punição para quem gosta de desfilar essa moda na rua, punição por atentado à saúde pública. Tenho dito.

3) Aos amantes da cultura em São Paulo, neste fim de semana acontece a Virada Cultural. 24 horas de músca boa, teatro, literatura, dança e outras atividades. Este evento é uma das coisas que prova que um pouquinho de esforço e otimismo valem bastante.

4) Os preparativos para a vinda do papa estão caminhando. Dia 11 será celebrada a missa de canonização de Frei Galvão, mas nada de feriado municipal. Esta mobilização toda quanto a vinda do papa me faz pensar em uma série de coisas, como por exemplo a que altura chega a representatividade de uma pessoa. Não precisa nem ser o papa, qualquer pessoa conhecida por você ou pou uma população, lhe causa certo distanciamento do mesmo, como se alguma ação praticada só tivesse validade se praticada por essa pessoa conhecida. Não me estenderei neste assunto nem peço compreensão sobre o pouco que escrevi, pois certamente minha opinião diverge a da maioria. Não julgo o certo ou o errado. É apenas uma reflexão.

5) Só para finalizar. Tem gente que não tem mesmo o que fazer! Impressionante! Sem mais.











links*: sobre o PDE - site G1
Virada Cultural

vídeo*: "Gentileza", de Dado Amaral e Vinícius Reis [aprenda a ser um 'maluco beleza']

domingo, abril 22, 2007

realidade*: perturbação cotidiana

"- Era melhor ter pago o Tiririca pra fazer um show!"

Acreditem, essa foi a frase mais perturbadora que ouvi nos últimos dias. Pior que qualquer insulto ou declaração política fantasiosa.

Quinta-feira fui à primeira eliminatória de um festival de música instrumental brasileira e fiquei chocada com a recepção do público. E antes de propor-me a calúnia de julgar tal comportamento, devo dizer que a qualidade musical do evento não deixou nem um pouco a desejar, foi de fato um belo espetáculo.

Já um tanto quanto abalada com o noticiário sangrento, algum pormenor ético me tira do sério e faz pensar que só posso viver num mundo paralelo.

A paciência deve ter mesmo virado artigo de luxo e ninguém consegue mais aproveitar o prazer de se dispor a conhecer coisas novas. E quem se dispõe, troca isso por uma presença na lista de chamada e uma voz a mais a gritar sem saber o real motivo.

Pois bem, aquele cara sentado na poltrona de trás, que preferia o Tiririca, certamente não faz questão nenhuma de ser respeitado por quem quer que seja, porque também não faz o menor esforço para respeitar os outros, e o pior, talvez ele nem saiba disso e sua manifestação tenha sido um ato corriqueiro e irrelevante a seu ver.

Aliás, por falar em ato inconsciente compulsório, decidiram que eu apoiaria uma greve...que coisa não...pelo menos fizeram a gentileza de me avisar.

Deixo aqui meu apelo aos atuais "conservadores chatos" que como eu prezam pelo mínimo de respeito das pessoas para as pessoas, pelo diálogo coerente e pela educação.











* Em uma semana em que os jornais espirraram sangue e as pessoas papo furado e desrespeito, quem sabe aquele consolo traduzido pelas notas do violão e por aquela presença não são mais que suficientes para fazer deitar ao travesseiro alguma tranqüilidade...

quinta-feira, abril 12, 2007

delírio alheio*: A Clarisse disse...

Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.

Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Clarisse Lispector







Acho que é bom pensar nessas coisas de vez enquando para fingir que o orgulho e a vaidade não existem. Para se aproveitar os momentos na íntegra para que se tenha a impressão de que nada faltou ou foi deixado para trás.


* Texto para aquelas pessoas que fizeram da minha sexta-feira de aniversário uma das melhores que já tive!

sábado, abril 07, 2007

realidade*: Ficção

Domingo passado li um artigo cujo título referia-se à proximidade e talvez à "mistura" de ficção e realidade presentes em um livro recém lançado, que por sinal não me chamou atenção pois não lembro nem de quem era e nem seu título ou sobre o que se tratava. O fato é que só de bater o olho no título do artigo já me pus a pensar em algo ocorrido por estes dias durante a leitura de um livro.

Tratava-se de uma publicação específica para a área de arquitetura e urbanismo, mas que vale a pena ser lido por aqueles que se interessam pela realidade da cidade de São Paulo, pois descreve um desses acontecimentos absurdos acerca da desapropriação e dos privilégios concedidos a quem tem mais dinheiro, como se este fosse o determinante para a quantificação dos direitos de cada cidadão.

Entendo que há muitos casos em que a realidade e a ficção podem ser aliadas, por exemplo, para a elaboração de soluções criativas, ou para o estímulo da imaginação. Mas por outro lado, este par pode tornar-se assustador e, no mínimo, algo que faz nascer a indignação. E este foi o caso.

Não é nem um pouco agradável dar-se conta de que se está diante de uma obra verídica quando se tem a sensação de ler uma obra de Saramago tamanha a falta de humanidade de algumas pessoas com outras e até mesmo de algumas pessoas com lugares.

Não pretendo discutir aqui o tema específico do livro, apenas registrar o quão perturbador pode ser abrir o jornal e até uma publicação acadêmica nos dias de hoje.





o livro*: "Parceiro da exclusão", Mariana Fix

alguns comentários*:
1) também é um tanto perturabador saber que têm coisas na nossa vida que estão mais que certas e não tem como você agir contra... feliz ou infelizmente...
2) e das certezas da vida só restou a saudade esta semana. Seriam 22 anos de sinceridade, alegria e determinação. Só nos restam lembranças boas daquele grande amigo...
3) daqui as pessoas não conseguem nem mais fugir para outro lugar do mundo. Sem comentários sobre a festa na casa da mãe Joana, que está boa né?! E o tal do desenvolvimento que é bom...
4) das coisas boas, uma das que nos resta é o cinema: os 50 melhores de 2006 no Cinesesc
5) o cheiro de Páscoa vai bem, obrigada! Espero que por aí também!

vídeo*: [e por falar em chocolate, esperança e criança...] "As coisas nascem das coisas" de Bel Bechara e Sandro Serpa

segunda-feira, março 26, 2007

delírio*: paixão

Dia desses ouvi dizer que aquela história de "diga-me com quem andas que te direi quem és" funciona também para algo do tipo "diga-me quem admiras que te direi quem és".

Particularmente me enquadro no grupo dos que acreditam que cada pessoa tem seu valor e sua razão de existir, e muito além de tudo isso existem aqueles cuja razão de existir é justamente fazer com que outros descubram a que vieram.

Talvez isso possa parecer um tanto confuso, mas é completo em sentido. Há coisa mais admirável que sentir que algumas pessoas vivem alimentadas por uma paixão? Digo isso por estar totalmente contaminada por este entusiasmo justificado [sim, pois ainda temos vagando por aí os pseudo-apaixonados que só te fazem entusiasmar para dali uns instantes cair em depressão por simplesmente não lhe ter sido apresentado algum meio para sanar tal sentimento].

Não falo aqui de paixão entre dois indivíduos, mas sim daquela pequena, imperceptível e essencial que está no prazer do café da manhã ao gosto pela ocupação profissional. Aquela que percebi nos olhos de um motorista de ônibus quando disse, questionado por um passageiro sobre o desgaste do trabalho, que o cansaço não o importava tanto porque gostava muito do que fazia. Aquela que motivava ao ver o cuidado em que um professor de geometria escrevia os números na lousa de forma ordenada e clara. Aquela que ecoou através de um discurso que falava de literatura e filosofia para se referir a um tijolo.

Pode ser que tudo isso que eu coloquei não passe de deslumbramento pelo deslumbramento dos outros, mas recomendo o olhar para fora do ego a fim de identificar-se como ser de existência essencial, pois, ao menos por aqui, certamente é isso que tem feito ocupar o espaço de outro tipo de paixão de forma tão prazerosa e completa.










obs*: desculpem-me pela pouca freqüência de atualizações, as coisas andam bem corridas por aqui. E posso dizer que isso é um ótimo sinal!
vídeo*: “O chapéu do meu avô” de Julia Zakia [e falando em paixão...]

domingo, março 11, 2007

comentário semanal*número 01




01 - Uma pesquisa revelou o absoluto descaso, de qual já falei aqui, a respeito da educação estadual. São Paulo aparece com um índice insatisfatório de aproveitamento na prova do Enem. E essa questão ainda parece um problema mínimo aos olhos de gregos e troianos, vide o PAC que nem se lembra direito da palavra "educação".

02 - E não é que o Bush aterrissou na terra tupiniquim com a tropa toda?! Trouxe guardas, armas, carros blindados, frases feitas, um manual secreto de "como congestionar completamente uma metrópole em 2 dias", filtro de ar, comida e água! A bagagem estava mesmo completa! Nem o calor do inferno ele esqueceu de trazer... 34º em SP, não é todo dia que acontece...

03 - Ainda sobre a passagem do Bush, manifestações por toda cidade. Milhares de cartazes...em português... Milhares de manifestantes...empatando a volta dos pobres paulistanos que também odeiam o Bush tanto quanto amam chegar logo em suas casas... Muitos policiais na Paulista batendo nos manifestantes...milhares de pessoas agindo como o terrorista visando manifestar-se contra o terrorismo...vai entender...

04 - Ao contrário do que temíamos, o triste ocorrido com o garoto João Hélio persiste em pauta mesmo depois do carnaval. E as discussões sobre redução de maioridade penal e tempo de prisão para autores de crimes hediondos prosseguem. Cogita-se até mesmo autonomia dos estados em legislação penal. Particularmente sou a favor da unidade legislativa, mas estes casos ganham um destaque tão assustador em São Paulo e no Rio ultimamente, que qualquer medida favorável aos cidadãos parece válida. Mesmo que como a princípio sirva de exemplo e não precise ser aplicada em todo o país.

05 - Quarta-feira foi dia da mulher. Tá... e daí? Pelo menos a minha volta ninguém ultrapassou a barreira da parabenização formal. Em tempos em que a gentileza não é lembrada nem nesse dia, a conversa mais produtiva nasceu no corredor da faculdade acerca de uma provável 'defesa' masculina através da, cada vez mais constante, afirmação do homossexualismo. Pois é...

07 - Aviso para quem é da classe dos "ordinários qualquer um" como eu: quer sofrer um grande choque em sua vida? Vá assistir alguma peça de José Celso e sinta-se um ser terrivelmente conservador e medíocre.

08 - Olha, eu sou covarde, mas tem gente que desafia a inteligência humana. Sem mais para evitar maiores problemas.









música*: “Ouro de Tolo” - sim! aquela do Raul! [texto oportuno para os descontentes de plantão]

vídeo*: “Janela Aberta” – Phillippe Barcinski [pra quem acha que é normal está aí algo que pode acontecer com qualquer um, principalmente com universitários em fim de semestre]

link*: “Os Sertões” – por José Celso [peças transmitidas online, veja a programação no site]