quarta-feira, janeiro 31, 2007

delírio*: Tecnologicodramaturgia



Para seu lirismo trancafiado em quatro paredes, a porta mágica com passagem através de um cabo que conduz a um lugar qualquer.

Para a solidão disfarçada de segurança, o inflar do ego à disposição de quem se queira num momento oportuno.

Para o mundo real, a observação da efemeridade dos fatos; uma sobra de boa intenção como garantia; a esperança do despertar consciente; o cansaço tardio; a vontade de cortar o cabo.












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filme* : "O Encontro" [Marcos Jorge] - achou insano? leia o roteiro com tradução.
ps*: Tentando me organizar para postar com mais freqüência. E minha câmera está de volta! Que alegria!

quarta-feira, janeiro 24, 2007

realidade*: Faz parte


"A música serve para muitas coisas. Serve para ouvir, para namorar, para dançar, para marchar, para agredir e até para matar. O negócio é o equilíbrio." (Tom Jobim)

Acrescentando às palavras do ilustre maestro, diria que a música serve também para unir as pessoas. Quer coisa mais bela que o amor que os paulistanos sentem uns pelos outros? Mais bela ainda é a demonstração desse amor manifestar-se justamente no dia do aniversário da cidade.

Feriado. Mais um desses dias de indecisão de São Pedro, mas nada capaz de deter o entusiasmo para sair um pouco de casa e aproveitar as atividades comemorativas. E desta vez, o Parque da Independência foi trocado pelo auditório Simon Bolívar. O gosto por programas mais tranqüilos e a oportunidade de assistir a Jazz Sinfônica tocando Tom Jobim, motivaram a escolha.

Como diz minha querida amiga Sofia (além da famosa frase "o trânsito é uma guerra"): "os paulistanos são imprevisíveis", logo, as devidas precauções deveriam ser tomadas diante das possibilidades esperadas para uma noite como esta. Chegar duas horas antes do início do concerto para garantir um lugar entre os quase 900 foi a mais importante delas.

Metrô vazio. Seis horas da tarde de uma quinta-feira, era como um sonho transformado em realidade. O prédio de Oscar Niemayer nos aguardava vazio.

Sentadas na mesa a espera da distribuição de ingressos (que realmente era esperada por ser algo óbvio de ocorrer antes de um concerto), fomos de assuntos agradáveis de férias a mais completa falta de assunto. Finalmente uma movimentação começa para a formação da famosa e organizada fila indiana.

Segurança do Memorial: - Não tem necessidade de ficar em fila. Fique o mais próximo possível da rampa que será melhor.

Distribuição de ingressos?Organização? Para quê?!

Muito bem, está dada a largada para o salve-se quem puder. Se bem que... analisando melhor, esse aglomerado não era composto por mais de 300 pessoas. E seguindo mais uma filosofia de Sofia, "para quê ficar de pé se podemos nos sentar?".

Assim que 'o aglomerado' começou a tomar forma mais ameaçadora e significativa aos olhos, a ação mais prudente era juntar-se a eles.

Senhor ao lado: - São sete e meia ainda. Teremos que esperar bastante.

Senhora à frente: - São sete e meia ainda. Teremos que esperar bastante.

Com sorriso no rosto e muita ansiedade pelo concerto, esperamos ali junto a todos. Corpos apertados e saudosos da rotina da absorção de calor humano de dias normais (existente, tão e somente devido ao amor recíproco entre as pessoas que citei anteriormente) e vendo a teoria de que as pessoas chegam todas juntas a um determinado lugar concretizar-se, encontrávamo-nos em meio a mais de 1000 pessoas em questão de instantes sem perceber.

Já cansados daquela situação deveras confortável, o público começa a manifestar-se até que, enfim, o sinal toca e a rampa é liberada. Como em uma liquidação de loja de departamentos, todos correm para chegar ao outro lado da porta.

Sala completamente lotada. Completamente no sentido literal, devo enfatizar. Completamente mesmo!

O concerto foi muito bonito! Ouvimos arranjos bastante interessantes para as famosas canções.

A escada? Sim! Estava bem confortável até...











imagem* : capa do disco 'Wave' de 1967.

um apelo* : "Organização de Eventos". Será que é uma ciência tão complexa?

um esclarecimento* : Particularmente gostei bastante da apresentação da Jazz Sinfônica. Ainda não havia os assitido pessoalmente. Espero conseguir ir no concerto de comemoração dos 100 anos de frevo.

link* : Jazz Sinfônica em ‘discografia’ tem algumas músicas para download

autor* : Ruy Castro - para quem gosta de Bossa Nova, ele possui alguns livros interessantes dos quais leio "A onda que se ergueu no mar", no momento:

"No dia em que se reescrever a Constituição, um dos novos artigos dirá: Todo brasileiro tem direito a um cantinho e um violão. Tem direito também a cidades saudáveis, matas verdes, céu azul, mar limpo e seis meses de verão."

[adorei isso!]

domingo, janeiro 21, 2007

realidade*: Tudo não passou de uma inocente ida ao litoral





"SP GANHARÁ ANTIGO 'FURA-FILA' DE PRESENTE DE ANIVERSÁRIO"
fonte: G1 (08/01/2007)



Por mais equivocados que esses parágrafos possam parecer, não me cabe descrever de outra maneira as quatro horas (ida e volta) de um percurso tão heterogêneo e passível de inúmeros questionamentos.

Em ruas bem conhecidas, embora não tão confortáveis de se atravessar justamente por não serem assim tão atravessadas, ainda resta algum verde, alguns passeios convidativos para os fins de tarde e o céu. É certo que alguns montes de tijolos mortos que chegam a alcançar pelo menos uns quarenta metros de altura, bem no centro da cidade, começam a se espalhar de forma gradativa e tão logo assustadora. Mas falemos do tempo presente, nele ainda ocorre a respiração livre de cada ser vivo. Volto a dizer, temos o céu dividindo com força o espaço com os outros elementos da paisagem enquadrada pela janela.

Segue-se em frente com destino à ponta do continente em busca de uma visão ainda menos fragmentada e saturada. Eu só não lembrava que se pagava por isso com uma confusão extrema de cores e formas que parecem querer engolir a mísera existência de cada um.

Esforçando ainda mais algumas lembranças não tão remotas assim: aquelas cores e formas não estavam ali.

O contraditório sentimento de clausura em plena rua oferece, por um momento (não tão breve que se deixe perder pela memória e nem tão demorado que se faça perder os sentidos), a nítida sensação de que aquele é o último estágio da tentativa antes da explosão. Aquela grande minhoca amarela avança por cima de nossas cabeças atravessando a cidade como algo que pede atenção exclusiva para si, carregando a responsabilidade funcional de resgatar um famigerado projeto engolidor de verba pública e pretensioso por resolver um dos mais sérios problemas urbanos.

Ao passar a falta de ar, ainda ocorrem mais à frente os momentos de tatu. Alguns minutos de escuridão e finalmente o céu abre-se de vez para confortar os olhos confusos com o horizonte mais simples e belo que se pode ver. Lá, cada entardecer quer ser único para a simplicidade não virar tédio.

Depois de alguns dias deixa-se para trás o lugar em que só a TV e as páginas dos jornais fazem escapar um mundo paralelo que se dissolve aos poucos. Saindo da ainda equilibrada coexistência entre concreto e natureza, passa-se pela vida de tatu e mais uma vez, após alguns minutos, pelo sentimento de clausura causada pela mais nova grande construção viária, até chegar ao lugar onde ainda resta céu para ser visto.

Pensar que a graça da metrópole está na diversidade pode ajudar a engolir algumas agressividades visuais...pelo menos não dá indigestão...eu acho...








link* : Introdução à Ciência Política [tudo que você queria saber mas tem vergonha de perguntar]
vídeo* :
"Metáfora Urbana" de Bruno Campanella [discorre sobre o que os túneis representam para a cidade]

terça-feira, janeiro 09, 2007

realidade*: Calma, ainda não é o fim

Noite passada esteve em destaque o prenúncio do fim do mundo: “Telefônica e Brasil Telecom bloqueiam o acesso ao Youtube” (http://g1.globo.com/) . Pois é, quando todos achavam que a humanidade estava salva de grandes problemas com a extinção do bigodudo iraquiano, a Cicarelli consegue acabar com o sossego e a diversão dos internautas brasileiros. [Viu só, Joe? Aí está a razão pela qual não conseguíamos assistir aquela inocente animação do Tim Burton no domingo...]

Bom, enquanto a população revolta-se contra dona Daniela, um senador americano anuncia que Bush enviará mais 20 mil soldados para o Iraque, policiais investigam se o ganhador de 54 milhões na mega-sena foi assassinado pela esposa, a população do Rio espera um entendimento entre governantes e um novo vídeo do enforcamento de Saddam circula por aí.

Falando nisso, circula onde? Ora, nos outros sites de vídeos do Google! Onde mais?! É isso aí pessoal, o Youtube foi bloqueado mas a astuta justiça esquece que ele não é o único site de vídeos na rede. Muito bem pessoal, para continuar a diversão é só mudar o endereço do site nos favoritos e encontrarão o mesmo conteúdo. Quem sabe até esse vídeo do Saddam e de quebra a Britney de porre!

Ah! Mas isso se os usuários de Speedy conseguirem se livrar do fantasma da instabilidade de conexão...







PS1.: por favor, dêem sua opinião sobre a nova campanha contra dengue, no mínimo é divulgada em momento oportuno - http://video.google.com/videoplay?docid=-5503498773966581583&q=dengarelli

PS2.: sobre a morte de Saddam, será que o Bush realmente acredita que o ditador está queimando no fogo do inferno e as cinzas emergirão como um pó mágico carregado de paz e democracia que será inalado e encaminhado diretamente aos corações humanos? Patético.

domingo, janeiro 07, 2007

surrealidade*: Saber ver a cidade

Dias bastante chuvosos e não tão emocionantes [porém não menos prazerosos] como estes só são capazes de encaminhar meus passos a bibliotecas e locadoras de vídeo [claro, sem contar com o conhecido caminho até a cozinha]. Numa dessas visitas de ensaio para pegar Os Miseráveis, que na verdade é a leitura meta dessas férias, resolvi dar uma passada rápida por um pouco de literatura italiana, que por sinal ainda não conhecia.

Fizeram-se necessários uma almofada confortável, uma garrafa de água e um pouco de silencio para o inicio da viagem. De Diomira a Berenice. Não houve um momento sequer para descanso durante a caminhada de Marco Polo.

Seguramente afirmo que o encantamento por cada lugar deste percurso supererou o transmitido pelos cenários das aventuras de Dom Quixote (que por sua vez, é outro texto fantástico que pretendo reler em breve). A princípio uma reação aparentemente espantosa, pois responsabiliza-se constantes sorrisos de beleza a meras duas páginas, no máximo, de descrição. Até chegar a conclusão de que aí está a magia de tudo, poucas palavras podem levar longe.

Ítalo Calvino, em As Cidades Invisíveis, consegue transmitir o que julgo ser de maior importância na percepção das cidades, o entendimento da alma de cada uma delas. Por meio de imagens surreias, Marco Pólo narra cada aglomeração urbana como algo que possui vida própria e é capaz de fornecer ensinamentos. Trata-se de uma obra muito bem estruturada, apesar deste suposto delírio. São 50 cidades relatadas em nove capítulos, intercalados por diálogos entre Marco Polo e o imperador Kublai Khan. Tudo isso numa linguagem que mais parece poesia disfarçada de prosa.

Para aqueles cuja fronteira do portão da rua não pretende ser ultrapassado por longos períodos, como ocorre por aqui, recomendo esta leitura tanto como obra literária de grande valor, de fácil entendimento e pequena, como um incentivo a imaginação para o olhar sobre nossas cidades reais e cotidianas de outra maneira.




obs.: gostaria de postar imagens do fruto deste meu encantamento, mas isso ocorrerá mais adiante quando minha câmera estiver curada do mal da tecnologia, o tal do recall...