quarta-feira, fevereiro 07, 2007

delírio*: Mundo real

"NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira."

[ferreira gullar]



Nesta versão aparentemente nada sensível, digo que não encontrei forma melhor de demonstrar meu amor pela poesia e pela beleza da realidade! Sim! Para quem não sabe, existe beleza no mundo real!

Dedico este post a meus queridos amigos que não gostam de poesia, mas que tenho certeza que gostarão desta!








vídeo*: mais poesia contemporânea da boa? Veja essa de Ricardo Domeneck
imagem*: qualquer coisa que desenhei hoje

3 comentários:

Carlos disse...

"Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço"

Penso que o resto já seja poesia por si mesmo =)

=*

Anônimo disse...

Olá!
Estava procurando "Não há vagas" para imprimir quando encontrei o link do teu blog e resolvi dar uma conferida. Sou estudante de Letras e estou fazendo uma crítica/análise do poema. Vou falar um pouquinho...

É um poema perfeito em se falando de realidade brasileira.
Gullar diz que não há vagas para essa "vida precária", essa "determinada classe social", mas o próprio retrata essa idéia no poema. Ele "deu vaga" a esse tipo de problema, pois enquanto outros poetas preferem a ilusão [homem sem estômago, mulher de nuvens, a fruta sem preço] ele trata da vida real. Diz que não há vaga ao básico da alimentação brasileira [feijão, arroz] e mostra indignação ao falar da sonegação do essencial da alimentação [leite, carne, açúcar, pão].
Cita o funcionário público, com a vida fechada em arquivos, pq o governo não se preocupa em saber quem são as pessoas que trabalham para o mesmo, apenas querem saber oq dizem suas fichas, não interessa suas vidas, a pessoa em si, seus sentimentos. Fala também do salário de fome, salário de miséria, salário baixo demais. Coloca também o operário gastando sua vida de aço [difícil] com carvão [oficinas escuras com muita fumaça - vida dura].
"O poema está fechado, não há vagas", mas ele usa o poema para tratar da realidade brasileira.

Poeta perfeito = poesia perfeita.

Adorei seu blog.
Esteja certa de que voltarei mais vezes aqui para dar uma conferida nas novidades.

Um abraço
Camila

Anônimo disse...

achei o poema ridiculo ! retata sobre um assunto que eu e , aposto que as pessoas tambem estão mais do que cansadas de ouvir :/