"Para Iemanjá
Oferenda não é essa perna de sofá. Essa marca de pneu. Esse óleo, esse breu. Peixes entulhados, assassinados. Minha Rainha.
Não são oferenda essas latas e caixas. Esses restos de navio. Baleias encalhadas. Pingüins tupiniquins, mortos e afins. Minha Rainha.
Não fui eu quem lançou ao mar essas garrafas de Coca. Essas flores de bosta. Não mijei na tua praia. Juro que não fui eu. Minha Rainha.
Oferenda não são os crioulos da Guiné. Os negros de Cuba. Na luta, cruzando a nado. Caçados e fisgados. Náufragos. Minha Rainha.
Não são para o teu altar essas lanchas e iates. Esses transatlânticos. Submarinos de guerra. Ilhas de Ozônio. Minha Rainha.
Oferenda não é essa maré de merda. Esse tempo doente. Deriva e degelo. Neste dia dois de fevereiro. Peço perdão. Minha Rainha.
Se a minha esperança é um grão de sal. Espuma de sabão. Nenhuma terra à vista. Neste oceano de medo. Nada. Minha Rainha.
[Marcelino Freire]"
Esta manifestação de desgosto e indignação brilhantemente exposta por Marcelino Freire [devido ao dia de Iemanjá], foi o primeiro texto que li neste dia de divulgação do relatório acerca do aquecimento global pela ONU e alerta sobre as condições do meio ambiente. Diante disso, não me atrevo a somar mais linhas. O texto fala por si e por todos nós.
2 comentários:
que legal seu blog!
Esse relatório da ONU é realmente alarmante.
=]
Caiu como uma luva...
Muito bom!!
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