sexta-feira, junho 08, 2007

realidade*: 'mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer'

E para mais uma seção de bloqueio criativo [que me atormenta a um bom tempo, por sinal], peço licença para utilizar um texto que achei bem opurtuno para este momento de crise profunda pelo qual não só nós das Universidades Estaduais, mas o Brasil inteiro está passando diante da transformação da cultura política em mero espetáculo televisivo.


"Revolucionário de pijamas"

Minha covardia é infinita
Simplesmente aceita aflita,
Todo o caos do meu país.

Minh'alegria é indestrutível,
Sempre passa impassível
Pelas praças e nos sinais.

Lá onde vivem crianças,
E velhos sem esperança,
Até que a morte nos dê paz.

Minha fome é insaciável,
Minha ganância indomável,
Diante de tanta miséria,
Eu ainda quero mais.

E a coragem que me falta,
Para lutar de verdade,
Me sobra na vaidade
Ao escrever cada palavra.

Portanto não se aborreça,
Com aquilo que eu te digo,
Sou apenas um mendigo,
Sem vontade nem nobreza.

Sou mais um em meio a tantos,
Que brada pelos cantos,
Mas no fundo nada faz.

Sou como você leitor,
Diante do monitor,
Ou em frente à TV.

E a mentira escancarada,
Já não nos revolta em nada.

É a verdade que ninguém vê.

Ullisses Salles



Só me resta pedir aos que se entendem capazes de julgar os outros que primeiro tentem entender a si próprio. Aos que julgam seu umbigo mais importante, que ao menos respeite o do outro. E aos que só fazem dizer que as coisas poderiam ser diferentes, por favor, quando encontrarem solução melhor que as que desprezam e condenam, utilizem-se de um microfone da Globo para fazer uma boa ação à humanidade e comunicar a nós todos.









link*: Recanto das Letras

terça-feira, maio 01, 2007

comentário semanal*número 02

Eu sei que ando publicando coisas não tão boas e numa frequência nada coerente (imagine comentar a semana numa terça-feira), mas que tal um pouco de nenhuma rotina na vida? É certo que isso pode causar algum dano na memória e um certo quadro de inconstâcia crônica... hm... legal!

1) Realmente não poderia deixar passar a nova tampa para tapar 'a fenda no espaço tempo' criada pelos deslizes do PAC a respeito da educação. Pois bem, fomos apresentados ao PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação, o chamado 'PAC da Educação'), um plano um tanto ambicioso que pretende nos privar de notícias como a da semana passada que dizia das notas abaixo da média de quase todas as escolas públicas do país. Neste tópico insisto em duas coisas: primeiro, tomara que esta não seja mais uma sigla para os nossos filhos decorarem para a prova de história na próxima geração e que birras políticas não travem a proposta, no mínimo, bem intencionada; segundo, para os pessimistas de plantão, ontem mesmo li algo que falava da visão dos homens de espírito que não ocorre nos 'do-contra-mau-humorados.. acho que nem preciso escrever muito sobre o quanto me causa náuseas esse monte de discurso pessimista só pelo prazer das pessoas que dizer prezar tanto pela democracia justa de ser anti-governo.. é o famoso 'se não ajuda, não atrapalha, por favor'

2) Por favor, alguém aí avise os profissionais de saúde que jaleco é para ser usado dentro de hospitais laboratórios desse gênero! E antes que digam que eu não avisei, o meu mísero conhecimento da vida diz que restaurantes e metrôs não se enquadram nesse gênero [alguém me avise se eu estiver errada]. Devia haver punição para quem gosta de desfilar essa moda na rua, punição por atentado à saúde pública. Tenho dito.

3) Aos amantes da cultura em São Paulo, neste fim de semana acontece a Virada Cultural. 24 horas de músca boa, teatro, literatura, dança e outras atividades. Este evento é uma das coisas que prova que um pouquinho de esforço e otimismo valem bastante.

4) Os preparativos para a vinda do papa estão caminhando. Dia 11 será celebrada a missa de canonização de Frei Galvão, mas nada de feriado municipal. Esta mobilização toda quanto a vinda do papa me faz pensar em uma série de coisas, como por exemplo a que altura chega a representatividade de uma pessoa. Não precisa nem ser o papa, qualquer pessoa conhecida por você ou pou uma população, lhe causa certo distanciamento do mesmo, como se alguma ação praticada só tivesse validade se praticada por essa pessoa conhecida. Não me estenderei neste assunto nem peço compreensão sobre o pouco que escrevi, pois certamente minha opinião diverge a da maioria. Não julgo o certo ou o errado. É apenas uma reflexão.

5) Só para finalizar. Tem gente que não tem mesmo o que fazer! Impressionante! Sem mais.











links*: sobre o PDE - site G1
Virada Cultural

vídeo*: "Gentileza", de Dado Amaral e Vinícius Reis [aprenda a ser um 'maluco beleza']

domingo, abril 22, 2007

realidade*: perturbação cotidiana

"- Era melhor ter pago o Tiririca pra fazer um show!"

Acreditem, essa foi a frase mais perturbadora que ouvi nos últimos dias. Pior que qualquer insulto ou declaração política fantasiosa.

Quinta-feira fui à primeira eliminatória de um festival de música instrumental brasileira e fiquei chocada com a recepção do público. E antes de propor-me a calúnia de julgar tal comportamento, devo dizer que a qualidade musical do evento não deixou nem um pouco a desejar, foi de fato um belo espetáculo.

Já um tanto quanto abalada com o noticiário sangrento, algum pormenor ético me tira do sério e faz pensar que só posso viver num mundo paralelo.

A paciência deve ter mesmo virado artigo de luxo e ninguém consegue mais aproveitar o prazer de se dispor a conhecer coisas novas. E quem se dispõe, troca isso por uma presença na lista de chamada e uma voz a mais a gritar sem saber o real motivo.

Pois bem, aquele cara sentado na poltrona de trás, que preferia o Tiririca, certamente não faz questão nenhuma de ser respeitado por quem quer que seja, porque também não faz o menor esforço para respeitar os outros, e o pior, talvez ele nem saiba disso e sua manifestação tenha sido um ato corriqueiro e irrelevante a seu ver.

Aliás, por falar em ato inconsciente compulsório, decidiram que eu apoiaria uma greve...que coisa não...pelo menos fizeram a gentileza de me avisar.

Deixo aqui meu apelo aos atuais "conservadores chatos" que como eu prezam pelo mínimo de respeito das pessoas para as pessoas, pelo diálogo coerente e pela educação.











* Em uma semana em que os jornais espirraram sangue e as pessoas papo furado e desrespeito, quem sabe aquele consolo traduzido pelas notas do violão e por aquela presença não são mais que suficientes para fazer deitar ao travesseiro alguma tranqüilidade...

quinta-feira, abril 12, 2007

delírio alheio*: A Clarisse disse...

Olhe para todos a seu redor e veja o que temos feito de nós.

Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não entendemos porque não queremos passar por tolos.
Temos amontoado coisas, coisas e coisas, mas não temos um ao outro.
Não temos nenhuma alegria que já não esteja catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.
Temos procurado nos salvar, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de ciúme e de tantos outros contraditórios.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos o que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer "pelo menos não fui tolo" e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.
E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Clarisse Lispector







Acho que é bom pensar nessas coisas de vez enquando para fingir que o orgulho e a vaidade não existem. Para se aproveitar os momentos na íntegra para que se tenha a impressão de que nada faltou ou foi deixado para trás.


* Texto para aquelas pessoas que fizeram da minha sexta-feira de aniversário uma das melhores que já tive!

sábado, abril 07, 2007

realidade*: Ficção

Domingo passado li um artigo cujo título referia-se à proximidade e talvez à "mistura" de ficção e realidade presentes em um livro recém lançado, que por sinal não me chamou atenção pois não lembro nem de quem era e nem seu título ou sobre o que se tratava. O fato é que só de bater o olho no título do artigo já me pus a pensar em algo ocorrido por estes dias durante a leitura de um livro.

Tratava-se de uma publicação específica para a área de arquitetura e urbanismo, mas que vale a pena ser lido por aqueles que se interessam pela realidade da cidade de São Paulo, pois descreve um desses acontecimentos absurdos acerca da desapropriação e dos privilégios concedidos a quem tem mais dinheiro, como se este fosse o determinante para a quantificação dos direitos de cada cidadão.

Entendo que há muitos casos em que a realidade e a ficção podem ser aliadas, por exemplo, para a elaboração de soluções criativas, ou para o estímulo da imaginação. Mas por outro lado, este par pode tornar-se assustador e, no mínimo, algo que faz nascer a indignação. E este foi o caso.

Não é nem um pouco agradável dar-se conta de que se está diante de uma obra verídica quando se tem a sensação de ler uma obra de Saramago tamanha a falta de humanidade de algumas pessoas com outras e até mesmo de algumas pessoas com lugares.

Não pretendo discutir aqui o tema específico do livro, apenas registrar o quão perturbador pode ser abrir o jornal e até uma publicação acadêmica nos dias de hoje.





o livro*: "Parceiro da exclusão", Mariana Fix

alguns comentários*:
1) também é um tanto perturabador saber que têm coisas na nossa vida que estão mais que certas e não tem como você agir contra... feliz ou infelizmente...
2) e das certezas da vida só restou a saudade esta semana. Seriam 22 anos de sinceridade, alegria e determinação. Só nos restam lembranças boas daquele grande amigo...
3) daqui as pessoas não conseguem nem mais fugir para outro lugar do mundo. Sem comentários sobre a festa na casa da mãe Joana, que está boa né?! E o tal do desenvolvimento que é bom...
4) das coisas boas, uma das que nos resta é o cinema: os 50 melhores de 2006 no Cinesesc
5) o cheiro de Páscoa vai bem, obrigada! Espero que por aí também!

vídeo*: [e por falar em chocolate, esperança e criança...] "As coisas nascem das coisas" de Bel Bechara e Sandro Serpa

segunda-feira, março 26, 2007

delírio*: paixão

Dia desses ouvi dizer que aquela história de "diga-me com quem andas que te direi quem és" funciona também para algo do tipo "diga-me quem admiras que te direi quem és".

Particularmente me enquadro no grupo dos que acreditam que cada pessoa tem seu valor e sua razão de existir, e muito além de tudo isso existem aqueles cuja razão de existir é justamente fazer com que outros descubram a que vieram.

Talvez isso possa parecer um tanto confuso, mas é completo em sentido. Há coisa mais admirável que sentir que algumas pessoas vivem alimentadas por uma paixão? Digo isso por estar totalmente contaminada por este entusiasmo justificado [sim, pois ainda temos vagando por aí os pseudo-apaixonados que só te fazem entusiasmar para dali uns instantes cair em depressão por simplesmente não lhe ter sido apresentado algum meio para sanar tal sentimento].

Não falo aqui de paixão entre dois indivíduos, mas sim daquela pequena, imperceptível e essencial que está no prazer do café da manhã ao gosto pela ocupação profissional. Aquela que percebi nos olhos de um motorista de ônibus quando disse, questionado por um passageiro sobre o desgaste do trabalho, que o cansaço não o importava tanto porque gostava muito do que fazia. Aquela que motivava ao ver o cuidado em que um professor de geometria escrevia os números na lousa de forma ordenada e clara. Aquela que ecoou através de um discurso que falava de literatura e filosofia para se referir a um tijolo.

Pode ser que tudo isso que eu coloquei não passe de deslumbramento pelo deslumbramento dos outros, mas recomendo o olhar para fora do ego a fim de identificar-se como ser de existência essencial, pois, ao menos por aqui, certamente é isso que tem feito ocupar o espaço de outro tipo de paixão de forma tão prazerosa e completa.










obs*: desculpem-me pela pouca freqüência de atualizações, as coisas andam bem corridas por aqui. E posso dizer que isso é um ótimo sinal!
vídeo*: “O chapéu do meu avô” de Julia Zakia [e falando em paixão...]

domingo, março 11, 2007

comentário semanal*número 01




01 - Uma pesquisa revelou o absoluto descaso, de qual já falei aqui, a respeito da educação estadual. São Paulo aparece com um índice insatisfatório de aproveitamento na prova do Enem. E essa questão ainda parece um problema mínimo aos olhos de gregos e troianos, vide o PAC que nem se lembra direito da palavra "educação".

02 - E não é que o Bush aterrissou na terra tupiniquim com a tropa toda?! Trouxe guardas, armas, carros blindados, frases feitas, um manual secreto de "como congestionar completamente uma metrópole em 2 dias", filtro de ar, comida e água! A bagagem estava mesmo completa! Nem o calor do inferno ele esqueceu de trazer... 34º em SP, não é todo dia que acontece...

03 - Ainda sobre a passagem do Bush, manifestações por toda cidade. Milhares de cartazes...em português... Milhares de manifestantes...empatando a volta dos pobres paulistanos que também odeiam o Bush tanto quanto amam chegar logo em suas casas... Muitos policiais na Paulista batendo nos manifestantes...milhares de pessoas agindo como o terrorista visando manifestar-se contra o terrorismo...vai entender...

04 - Ao contrário do que temíamos, o triste ocorrido com o garoto João Hélio persiste em pauta mesmo depois do carnaval. E as discussões sobre redução de maioridade penal e tempo de prisão para autores de crimes hediondos prosseguem. Cogita-se até mesmo autonomia dos estados em legislação penal. Particularmente sou a favor da unidade legislativa, mas estes casos ganham um destaque tão assustador em São Paulo e no Rio ultimamente, que qualquer medida favorável aos cidadãos parece válida. Mesmo que como a princípio sirva de exemplo e não precise ser aplicada em todo o país.

05 - Quarta-feira foi dia da mulher. Tá... e daí? Pelo menos a minha volta ninguém ultrapassou a barreira da parabenização formal. Em tempos em que a gentileza não é lembrada nem nesse dia, a conversa mais produtiva nasceu no corredor da faculdade acerca de uma provável 'defesa' masculina através da, cada vez mais constante, afirmação do homossexualismo. Pois é...

07 - Aviso para quem é da classe dos "ordinários qualquer um" como eu: quer sofrer um grande choque em sua vida? Vá assistir alguma peça de José Celso e sinta-se um ser terrivelmente conservador e medíocre.

08 - Olha, eu sou covarde, mas tem gente que desafia a inteligência humana. Sem mais para evitar maiores problemas.









música*: “Ouro de Tolo” - sim! aquela do Raul! [texto oportuno para os descontentes de plantão]

vídeo*: “Janela Aberta” – Phillippe Barcinski [pra quem acha que é normal está aí algo que pode acontecer com qualquer um, principalmente com universitários em fim de semestre]

link*: “Os Sertões” – por José Celso [peças transmitidas online, veja a programação no site]

sábado, março 03, 2007

delírio da realidade*: Tudo em seu devido lugar


Ainda tem muita gente no metrô, ainda tem gente sentada na escadaria da Sé, as canetas continuam a custar 50 centavos. Tem fila, tem trânsito e as quatro estações do ano em um dia.

Tem cheiro de grama cortada. Gente querendo começar, tem gente querendo mais que acabe. Tem festa, tem aula. Tem discussão de política no ônibus, um cara recitando poesia na mesa da lanchonete.

Tem um monte de promessa de início de ano. Tem amigos, cada dia menos dinheiro no bolso, cada dia mais paixão pelo que esta sendo feito.

Tem renúncias também...algumas, por motivos diversos...

E se no Brasil o ano começa depois do caranval, na Fau o ano começa depois do maracatu.

Feliz ano novo, então.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

realidade*: A boa vontade podia estar na moda para tudo

População ignorante e sem cultura só se for na cabeça do redator do tal do pseudo-jornal popular apresentado por aquele tal de “inimigo do gato no diminutivo” (na verdade nem sei se esta ofensa aos telespectadores já foi tirada do ar, tomara que sim). Foram 1400 ingressos vendidos em 1 dia e meio praticamente. Esta certo que a peça realmente merece tal procura, mas este interesse de tantos me surpreende e alegra.

Quem dizia que não tinha nada para fazer na cidade de Guarulhos agora diz que não faz nada por falta de lugar. As filas quilométricas são impressionantemente divididas por pessoas de todas idades e posições sociais.

Seja por curiosidade ou por gosto, o fato é que o teatro lota a cada evento e mostra que a prefeitura acertou no investimento pesado em cultura. E mesmo que não passe de um artifício arrecadador de votos para o ano que vem - diriam aquelas figuras agradabilíssimas que preferem torcer contra que apresentar soluções melhores - os beneficiários estão sabendo se aproveitar muito bem da situação.

Não é difícil lembrar-se das noites em que voltávamos após ter tocado para, num dia bom, um publico de 20 pessoas num teatro pequeno de biblioteca. Passados 4 ou 5 anos vemos que a simples construção de um centro educacional motivou espectadores ou meros curiosos a saírem de suas casas para esquecer um pouco da realidade divertindo-se com uma apresentação musical ou uma peça de teatro, que nem precisam ter o peso de uma obra de Shakspeare.

Pensando nisso, imagine o que faria um pequeno incentivo como este para motivação de interesse político, para motivar o interesse às questões ambientais, a simples instalação de latas de lixo reciclável em vários pontos acessíveis da cidade.

Tomara que este empenho empregado na cultura prossiga por parte de todos e que contagie os responsáveis por outros setores, como os de assuntos urbanos, que deixam a desejar fechando os olhos para tantas construções abandonadas, falta de iluminação em ruas e praças e falta de cuidado com o patrimônio e limpeza.





causo*: O dia em que a cidade foi ao teatro

1,2 milhão de habitantes
1 teatro bastante importante
1 produção de porte considerável
1400 ingressos
2 dias de espetáculo
700 lugares
1400 pessoas que correram para garantirem sua cadeira
2 dias de vendas de ingressos
15 minutos dividiram-me entre ter e não ter um ingresso

Dados estes números, alguém sabe me dizer qual a probabilidade de um passado longínquo, com a esposa, sentar-se ao seu lado para ver a peça? Certamente uma conta bastante complexa... Um fato bastante improvável... Mas a questão crucial é: O passado de quem? E eu digo: de quem vos escreve.

Muito bem! Agora sim a resposta está mais que dada: 100% é claro!

Mas vejam só... tenho certeza que só não ganhei na loteria ainda porque nunca joguei.

Acaso? Só se esta palavra significar fato que tinha que acontecer para lhe causar reação necessária, neste caso, nas condições atuais, faltava-me o frescor da ironia da vida!

E ainda acham que é à toa que dou tanto valor às mesmices cansativas de uma vida com tantos pequenos e bizarros acontecimentos cotidianos.








post extra*: a situação mereceu um registro

domingo, fevereiro 18, 2007

realidade*: O futuro? Boa pergunta.

Basta pressionar um botão e pronto, põe-se a sua disposição qualquer coisa que desejar ver. Imagens que condizem com seu estado de espírito no momento, informações sobre assuntos dos quais não extrapolam seus interesses e a liberdade mais limitada que se pode conhecer posta a seu comando. Eis aí a nova discussão acerca do impulso tecnológico dado aos meios de comunicação.

Antes que alguém pense em querer me julgar reacionária, tentarei explicar minha preocupação com este desenfreado avanço.

Tomemos como primeiro exemplo o caso do YouTube, o protagonista de polêmicas recentes e de conseqüências inicialmente palpáveis. Depois de vermos o fracasso de uma tentativa de censura judicial e nos posicionarmos ideologicamente a respeito do que é de fato a tão almejada privacidade, não nos restam duvidas de quão incontrolável pode ser uma ferramenta de acesso livre (tanto na reprodução quanto na criação) a ponto de ser capaz de influenciar o questionamento da opinião publica.

Outro exemplo, que ainda está por vir, apresenta uma face, de certa forma, oposta a anterior, é o da tv digital. Neste caso, teremos também um pacote de informações inteiro a disposição de nossas vontades momentâneas, diferindo-se pela fonte criadora de conteúdo, as empresas de telecomunicação.

Isto posto, volto a minha reflexão inicial: será que estamos preparados para uma manipulação ponderada de tantos assuntos, uma vez que a escolha será sempre por aquilo que nos agrada, fazendo nossos parâmetros de qualidade virarem especialistas nisso ou naquilo que preferimos assistir? Ou, por outro lado, será que o privilégio de escolha mostrar-se-á legítimo tendo em vista o monte de porcaria que a tv aberta nos oferece a atacado?

Pois bem, e numa conclusão delirante de minha parte, penso que justamente aquele tal de YouTube, disposto a receber e transmitir o que o publico deseja como consumo, pode ser a chave para uma demonstração do que realmente nos interessa: diversão (é claro, e a principio a principal utilidade do site), informação (como já anda sendo colocado timidamente através de sites similares com programas educacionais e filmes documentários) e, porque não, alcançando o ápice da falta de desperdício de inteligência humana, sendo utilizado como ferramenta de utilidade publica (exibindo, por exemplo, vídeos como este que nos abre os olhos para percebermos a que ponto chega a palhaçada da política nacional).






vídeo*: já faz algumas semanas que isso aconteceu, mas senti necessidade de colocar isso aqui mesmo assim

enquanto isso no carnaval*: é, mais um carnaval de sofá. Tudo bem, quem sabe ano que vem vou para Recife dançar um frevo... A propósito, lindo desfile da Viradouro.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

realidade*: Aquele colorido que eu não conhecia


"HINO DOS BATUTAS DE SÃO JOSÉ

Eu quero entrar na folia meu bem
Você sabe lá que é isso
Batutas de São José
Isto é parece que tem feitiço

Batutas tem atração que
Ninguém pode resistir
Um frevo deste bem faz
Demais a gente se distinguir

Deixa o frevo rolar
Eu só quero saber
Se você vai ficar
Ai meu bem sem você
Não há carnaval
Vamos cair no passo
E a vida gozar"

[João Santiago]


Não passava de mais uma classificação entre tantas na música nacional que se diferenciava por fazer pessoas dançarem com sombrinhas coloridas. Agora vai além de mais uma fração da diversidade.

No meu caderno de rascunhos estão anotados outros temas e textos que falam de momentos de agora [que confesso estou relutante em colocar aqui temendo a redundância, embora o efeito da redundância possa ser a motivação para a transcrição dos textos], mas por ora eles darão licença a mais uma das novas 'descobertas' feita em momento bastante oportuno.

Mais uma quarta-feira de Jazz Sinfônica. Sim! Eu consegui ir ver Spok! E graças à voz do bom senso, às duas da tarde a bilheteria abriu para nos servir do conforto da certeza de uma cadeira numerada.

Desta vez não havia ninguém reclamando de demora para a abertura dos portões do auditório, só o que ouvi foi o deslumbramento ao final do concerto, de pessoas, que como eu, só ouviram frevo pela tv até então.

Felizmente tem coisas que só sabe quem vive, quem vê ou quem ouve. Simplesmente não há como descrever o que ouvi aquela noite. O máximo que posso dizer é que com certeza foi uma das apresentações de orquestra mais belas que já tive oportunidade de presenciar.

Certamente quem me conhece sabe o quanto sou suspeita em falar sobre a música instrumental brasileira, mas asseguro que este encantamento todo vem justamente desta constante de nunca haver constante ou o conhecimento pleno do que ocorre no país. Aliás, quanto mais conheço, mais vejo que estou distante desse conhecimento todo.

Coloquei uma pequena amostra do que ouvi para que você possa tirar sua própria conclusão e despertar por si a vontade de ampliar seu repertório musical.









pois é*: toda essa história me fez lembrar que ainda existe carnaval e que talvez este seja mais um ano em que passarei sentada no sofá. Um tanto quanto triste, já que mesmo meus míseros 20 anos têm saudades dos carnavais do Rio e dos blocos de rua do interior de alguns anos atrás. Quem sabe ano que vem, pelo menos o Anhembi veja minha cara de perto.

quem é o Spok?*: um dos melhores saxofonistas que conheço.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

personagem*: A mulher risonha

Entre piadas e casos com os quais você chega a se identificar e rir muito estão lá, querendo uma porção de sua atenção, as gargalhadas histéricas da senhora da cadeira de trás.

Inauguro a descrição de ilustres personagens do cotidiano com um tipo bem conhecido de quem costuma ir ao teatro. A senhora risonha.

Não sei é obra da famosa ironia do destino, se faz parte do espetáculo ou se é uma pegadinha de televisão, mas ocorre que é tão constante a presença de tal indivíduo, que se começa até a duvidar do acaso que rege a compra de ingressos de cadeiras numeradas.

Infelizmente não se trata de uma caricatura percebida a primeira vista e sim a primeira piada, o que faz com que o tempo que você possui para trocar de lugar, como faz no cinema ao tratar logo de ficar longe de grupos possivelmente barulhentos, inexista.

Para ela não há meio termo, ou a piada é engraçadíssima, ou a piada é engraçadíssima. O simples fato de a luz da platéia apagar já pode ser um fato hilário.

Bom, tudo bem se a pessoa é tão feliz a ponto de fazer com que você fique na dúvida se ri dela ou do ator, mas o real problema encontra-se no exato instante em que se percebe que aquela simpática e sorridente senhora, além de ser extremamente feliz por natureza, já tenha visto o espetáculo antes. O forte indício: ela conta o fim da piada antes que ela seja dita por aquele de você espera o fim da piada ser contado.Pois bem, diante desta situação praticamente não há o que fazer. Apenas pensar em algum lado bom provável...Quem sabe ela não está lá justamente para garantir sua alegria no caso de a peça ser um fracasso?











peça em questão*: "Recital de humor", de Sérgio Rabello [bom]
imagem*: ela era mais ou menos assim

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

delírio*: Mundo real

"NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão.

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

– porque o poema, senhores,
está fechado: “não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira."

[ferreira gullar]



Nesta versão aparentemente nada sensível, digo que não encontrei forma melhor de demonstrar meu amor pela poesia e pela beleza da realidade! Sim! Para quem não sabe, existe beleza no mundo real!

Dedico este post a meus queridos amigos que não gostam de poesia, mas que tenho certeza que gostarão desta!








vídeo*: mais poesia contemporânea da boa? Veja essa de Ricardo Domeneck
imagem*: qualquer coisa que desenhei hoje

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

realidade*: Educação? O grande objetivo era alcançar a meta.

A violência em algumas regiões do Estado de São Paulo atendidas pelo programa “Escola da Família" diminuiu quase 60%. Que maravilha! Que medida político-social inacreditavelmente eficaz! Mas agora chega!

Neste sábado (03-02), surpreendi-me com um artigo em um noticiário de tv dizendo do corte de mais 50% de escolas estaduais inseridas nas atividades do “Escola da Família”. Depois de três anos de existência de atividades extra-curriculares gratuitas oferecidas a comunidades carentes, as circunstâncias fizeram muitas crianças e jovens voltarem para suas casas ao encontrarem suas escolas fechadas.

Para completar o absurdo, já iniciado com o anúncio da redução pela metade da verba destinada a tal fim pelo governador José Serra, o Governo mudou de desculpa alegando que sua parte na história estava praticamente concluída, visto que a violência nos locais em que o programa era executado havia diminuído cerca de 60%, e, portanto, as comunidades já haviam absorvido o ideal do ato de ‘generosidade’ governamental. Outro argumento cabe ao direito que os diretores dessas escolas possuem de abrir as portas de seus colégios aos fins de semana, mesmo sem a vigência do programa.

Agora vamos aos fatos, digamos que esses diretores resolvam abrir suas portas para continuar a oferecer os cursos que já estavam em andamento:
- Deve haver uma reorganização de equipes de voluntários para a continuidade dos cursos, já que os que estavam trabalhando nas escolas que foram excluídas do direito serão remanejados [pois a maioria depende de bolsas do governo para concluir seus estudos] para as instituições ainda privilegiadas;
- Deve-se prosseguir com a manutenção das compras de materiais eventualmente necessários para as aulas, mas de onde viria o dinheiro? Dos alunos que não tem nem como pagar a passagem? Dos diretores, professores ou voluntários das escolas? Da iniciativa privada sabe-se lá de que empresas?

Podemos dizer então, que todas aquelas crianças e jovens que voltaram para suas casas no sábado de manhã estão simplesmente entregues a boa vontade das escolas e da própria comunidade. Não digo que esta boa vontade não exista, principalmente por parte da comunidade, porém, por experiência própria, posso dizer que não são todas as escolas [e nem tão pouco todos os profissionais de educação da rede pública] que estão dispostas a fazer algo além de sua obrigação semanal de forma espontânea.

Sinceramente não consigo entender a lógica desta medida! Também gostaria muito de saber para onde vai este dinheiro que deixará de ser investido. Será investido em mais empregos para os pais desses jovens conseguirem proporcionar lazer pago a seus filhos, ou na melhoria de infra-estrutura e ensino de escolas estaduais? Será investidos no incentivo à cultura, ou na construção de centros esportivos e de artes em comunidades pobres? Ah não, claro, como não havia pensado nisso antes: será sabiamente investidos na construção de uma nova e exemplar Febem.









artigos*:
“Serra reduz o Escola da Família” – O Estado de S.Paulo
“Escola da Família está sendo reduzido” – SPTV

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

surrealidade+realidade*: Dois de fevereiro


"Para Iemanjá

Oferenda não é essa perna de sofá. Essa marca de pneu. Esse óleo, esse breu. Peixes entulhados, assassinados. Minha Rainha.

Não são oferenda essas latas e caixas. Esses restos de navio. Baleias encalhadas. Pingüins tupiniquins, mortos e afins. Minha Rainha.

Não fui eu quem lançou ao mar essas garrafas de Coca. Essas flores de bosta. Não mijei na tua praia. Juro que não fui eu. Minha Rainha.

Oferenda não são os crioulos da Guiné. Os negros de Cuba. Na luta, cruzando a nado. Caçados e fisgados. Náufragos. Minha Rainha.

Não são para o teu altar essas lanchas e iates. Esses transatlânticos. Submarinos de guerra. Ilhas de Ozônio. Minha Rainha.

Oferenda não é essa maré de merda. Esse tempo doente. Deriva e degelo. Neste dia dois de fevereiro. Peço perdão. Minha Rainha.

Se a minha esperança é um grão de sal. Espuma de sabão. Nenhuma terra à vista. Neste oceano de medo. Nada. Minha Rainha
.

[Marcelino Freire]"






Esta manifestação de desgosto e indignação brilhantemente exposta por Marcelino Freire [devido ao dia de Iemanjá], foi o primeiro texto que li neste dia de divulgação do relatório acerca do aquecimento global pela ONU e alerta sobre as condições do meio ambiente. Diante disso, não me atrevo a somar mais linhas. O texto fala por si e por todos nós.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

delírio*: Tecnologicodramaturgia



Para seu lirismo trancafiado em quatro paredes, a porta mágica com passagem através de um cabo que conduz a um lugar qualquer.

Para a solidão disfarçada de segurança, o inflar do ego à disposição de quem se queira num momento oportuno.

Para o mundo real, a observação da efemeridade dos fatos; uma sobra de boa intenção como garantia; a esperança do despertar consciente; o cansaço tardio; a vontade de cortar o cabo.












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filme* : "O Encontro" [Marcos Jorge] - achou insano? leia o roteiro com tradução.
ps*: Tentando me organizar para postar com mais freqüência. E minha câmera está de volta! Que alegria!

quarta-feira, janeiro 24, 2007

realidade*: Faz parte


"A música serve para muitas coisas. Serve para ouvir, para namorar, para dançar, para marchar, para agredir e até para matar. O negócio é o equilíbrio." (Tom Jobim)

Acrescentando às palavras do ilustre maestro, diria que a música serve também para unir as pessoas. Quer coisa mais bela que o amor que os paulistanos sentem uns pelos outros? Mais bela ainda é a demonstração desse amor manifestar-se justamente no dia do aniversário da cidade.

Feriado. Mais um desses dias de indecisão de São Pedro, mas nada capaz de deter o entusiasmo para sair um pouco de casa e aproveitar as atividades comemorativas. E desta vez, o Parque da Independência foi trocado pelo auditório Simon Bolívar. O gosto por programas mais tranqüilos e a oportunidade de assistir a Jazz Sinfônica tocando Tom Jobim, motivaram a escolha.

Como diz minha querida amiga Sofia (além da famosa frase "o trânsito é uma guerra"): "os paulistanos são imprevisíveis", logo, as devidas precauções deveriam ser tomadas diante das possibilidades esperadas para uma noite como esta. Chegar duas horas antes do início do concerto para garantir um lugar entre os quase 900 foi a mais importante delas.

Metrô vazio. Seis horas da tarde de uma quinta-feira, era como um sonho transformado em realidade. O prédio de Oscar Niemayer nos aguardava vazio.

Sentadas na mesa a espera da distribuição de ingressos (que realmente era esperada por ser algo óbvio de ocorrer antes de um concerto), fomos de assuntos agradáveis de férias a mais completa falta de assunto. Finalmente uma movimentação começa para a formação da famosa e organizada fila indiana.

Segurança do Memorial: - Não tem necessidade de ficar em fila. Fique o mais próximo possível da rampa que será melhor.

Distribuição de ingressos?Organização? Para quê?!

Muito bem, está dada a largada para o salve-se quem puder. Se bem que... analisando melhor, esse aglomerado não era composto por mais de 300 pessoas. E seguindo mais uma filosofia de Sofia, "para quê ficar de pé se podemos nos sentar?".

Assim que 'o aglomerado' começou a tomar forma mais ameaçadora e significativa aos olhos, a ação mais prudente era juntar-se a eles.

Senhor ao lado: - São sete e meia ainda. Teremos que esperar bastante.

Senhora à frente: - São sete e meia ainda. Teremos que esperar bastante.

Com sorriso no rosto e muita ansiedade pelo concerto, esperamos ali junto a todos. Corpos apertados e saudosos da rotina da absorção de calor humano de dias normais (existente, tão e somente devido ao amor recíproco entre as pessoas que citei anteriormente) e vendo a teoria de que as pessoas chegam todas juntas a um determinado lugar concretizar-se, encontrávamo-nos em meio a mais de 1000 pessoas em questão de instantes sem perceber.

Já cansados daquela situação deveras confortável, o público começa a manifestar-se até que, enfim, o sinal toca e a rampa é liberada. Como em uma liquidação de loja de departamentos, todos correm para chegar ao outro lado da porta.

Sala completamente lotada. Completamente no sentido literal, devo enfatizar. Completamente mesmo!

O concerto foi muito bonito! Ouvimos arranjos bastante interessantes para as famosas canções.

A escada? Sim! Estava bem confortável até...











imagem* : capa do disco 'Wave' de 1967.

um apelo* : "Organização de Eventos". Será que é uma ciência tão complexa?

um esclarecimento* : Particularmente gostei bastante da apresentação da Jazz Sinfônica. Ainda não havia os assitido pessoalmente. Espero conseguir ir no concerto de comemoração dos 100 anos de frevo.

link* : Jazz Sinfônica em ‘discografia’ tem algumas músicas para download

autor* : Ruy Castro - para quem gosta de Bossa Nova, ele possui alguns livros interessantes dos quais leio "A onda que se ergueu no mar", no momento:

"No dia em que se reescrever a Constituição, um dos novos artigos dirá: Todo brasileiro tem direito a um cantinho e um violão. Tem direito também a cidades saudáveis, matas verdes, céu azul, mar limpo e seis meses de verão."

[adorei isso!]

domingo, janeiro 21, 2007

realidade*: Tudo não passou de uma inocente ida ao litoral





"SP GANHARÁ ANTIGO 'FURA-FILA' DE PRESENTE DE ANIVERSÁRIO"
fonte: G1 (08/01/2007)



Por mais equivocados que esses parágrafos possam parecer, não me cabe descrever de outra maneira as quatro horas (ida e volta) de um percurso tão heterogêneo e passível de inúmeros questionamentos.

Em ruas bem conhecidas, embora não tão confortáveis de se atravessar justamente por não serem assim tão atravessadas, ainda resta algum verde, alguns passeios convidativos para os fins de tarde e o céu. É certo que alguns montes de tijolos mortos que chegam a alcançar pelo menos uns quarenta metros de altura, bem no centro da cidade, começam a se espalhar de forma gradativa e tão logo assustadora. Mas falemos do tempo presente, nele ainda ocorre a respiração livre de cada ser vivo. Volto a dizer, temos o céu dividindo com força o espaço com os outros elementos da paisagem enquadrada pela janela.

Segue-se em frente com destino à ponta do continente em busca de uma visão ainda menos fragmentada e saturada. Eu só não lembrava que se pagava por isso com uma confusão extrema de cores e formas que parecem querer engolir a mísera existência de cada um.

Esforçando ainda mais algumas lembranças não tão remotas assim: aquelas cores e formas não estavam ali.

O contraditório sentimento de clausura em plena rua oferece, por um momento (não tão breve que se deixe perder pela memória e nem tão demorado que se faça perder os sentidos), a nítida sensação de que aquele é o último estágio da tentativa antes da explosão. Aquela grande minhoca amarela avança por cima de nossas cabeças atravessando a cidade como algo que pede atenção exclusiva para si, carregando a responsabilidade funcional de resgatar um famigerado projeto engolidor de verba pública e pretensioso por resolver um dos mais sérios problemas urbanos.

Ao passar a falta de ar, ainda ocorrem mais à frente os momentos de tatu. Alguns minutos de escuridão e finalmente o céu abre-se de vez para confortar os olhos confusos com o horizonte mais simples e belo que se pode ver. Lá, cada entardecer quer ser único para a simplicidade não virar tédio.

Depois de alguns dias deixa-se para trás o lugar em que só a TV e as páginas dos jornais fazem escapar um mundo paralelo que se dissolve aos poucos. Saindo da ainda equilibrada coexistência entre concreto e natureza, passa-se pela vida de tatu e mais uma vez, após alguns minutos, pelo sentimento de clausura causada pela mais nova grande construção viária, até chegar ao lugar onde ainda resta céu para ser visto.

Pensar que a graça da metrópole está na diversidade pode ajudar a engolir algumas agressividades visuais...pelo menos não dá indigestão...eu acho...








link* : Introdução à Ciência Política [tudo que você queria saber mas tem vergonha de perguntar]
vídeo* :
"Metáfora Urbana" de Bruno Campanella [discorre sobre o que os túneis representam para a cidade]

terça-feira, janeiro 09, 2007

realidade*: Calma, ainda não é o fim

Noite passada esteve em destaque o prenúncio do fim do mundo: “Telefônica e Brasil Telecom bloqueiam o acesso ao Youtube” (http://g1.globo.com/) . Pois é, quando todos achavam que a humanidade estava salva de grandes problemas com a extinção do bigodudo iraquiano, a Cicarelli consegue acabar com o sossego e a diversão dos internautas brasileiros. [Viu só, Joe? Aí está a razão pela qual não conseguíamos assistir aquela inocente animação do Tim Burton no domingo...]

Bom, enquanto a população revolta-se contra dona Daniela, um senador americano anuncia que Bush enviará mais 20 mil soldados para o Iraque, policiais investigam se o ganhador de 54 milhões na mega-sena foi assassinado pela esposa, a população do Rio espera um entendimento entre governantes e um novo vídeo do enforcamento de Saddam circula por aí.

Falando nisso, circula onde? Ora, nos outros sites de vídeos do Google! Onde mais?! É isso aí pessoal, o Youtube foi bloqueado mas a astuta justiça esquece que ele não é o único site de vídeos na rede. Muito bem pessoal, para continuar a diversão é só mudar o endereço do site nos favoritos e encontrarão o mesmo conteúdo. Quem sabe até esse vídeo do Saddam e de quebra a Britney de porre!

Ah! Mas isso se os usuários de Speedy conseguirem se livrar do fantasma da instabilidade de conexão...







PS1.: por favor, dêem sua opinião sobre a nova campanha contra dengue, no mínimo é divulgada em momento oportuno - http://video.google.com/videoplay?docid=-5503498773966581583&q=dengarelli

PS2.: sobre a morte de Saddam, será que o Bush realmente acredita que o ditador está queimando no fogo do inferno e as cinzas emergirão como um pó mágico carregado de paz e democracia que será inalado e encaminhado diretamente aos corações humanos? Patético.

domingo, janeiro 07, 2007

surrealidade*: Saber ver a cidade

Dias bastante chuvosos e não tão emocionantes [porém não menos prazerosos] como estes só são capazes de encaminhar meus passos a bibliotecas e locadoras de vídeo [claro, sem contar com o conhecido caminho até a cozinha]. Numa dessas visitas de ensaio para pegar Os Miseráveis, que na verdade é a leitura meta dessas férias, resolvi dar uma passada rápida por um pouco de literatura italiana, que por sinal ainda não conhecia.

Fizeram-se necessários uma almofada confortável, uma garrafa de água e um pouco de silencio para o inicio da viagem. De Diomira a Berenice. Não houve um momento sequer para descanso durante a caminhada de Marco Polo.

Seguramente afirmo que o encantamento por cada lugar deste percurso supererou o transmitido pelos cenários das aventuras de Dom Quixote (que por sua vez, é outro texto fantástico que pretendo reler em breve). A princípio uma reação aparentemente espantosa, pois responsabiliza-se constantes sorrisos de beleza a meras duas páginas, no máximo, de descrição. Até chegar a conclusão de que aí está a magia de tudo, poucas palavras podem levar longe.

Ítalo Calvino, em As Cidades Invisíveis, consegue transmitir o que julgo ser de maior importância na percepção das cidades, o entendimento da alma de cada uma delas. Por meio de imagens surreias, Marco Pólo narra cada aglomeração urbana como algo que possui vida própria e é capaz de fornecer ensinamentos. Trata-se de uma obra muito bem estruturada, apesar deste suposto delírio. São 50 cidades relatadas em nove capítulos, intercalados por diálogos entre Marco Polo e o imperador Kublai Khan. Tudo isso numa linguagem que mais parece poesia disfarçada de prosa.

Para aqueles cuja fronteira do portão da rua não pretende ser ultrapassado por longos períodos, como ocorre por aqui, recomendo esta leitura tanto como obra literária de grande valor, de fácil entendimento e pequena, como um incentivo a imaginação para o olhar sobre nossas cidades reais e cotidianas de outra maneira.




obs.: gostaria de postar imagens do fruto deste meu encantamento, mas isso ocorrerá mais adiante quando minha câmera estiver curada do mal da tecnologia, o tal do recall...